A geração que disse sim ao campo e não se arrepende

[Sucessão] A geração que disse sim ao campo e não se arrepende

19/10/2018 | Autor: Larissa Vieira

Da esquerda para a direita: Victor Wortmann, Maria Corina Wortmann, José Antônio Ardais Wortmann (Bido), Laura Wortmann e Daniela Wortmann

No Pampa gaúcho, a família Wortmann vem investindo em um planejamento sucessório para continuar fora de uma estatística preocupante. Os jovens brasileiros continuam migrando para os centros urbanos, obrigando muitas famílias a colocarem um ponto final em décadas de atuação no campo. De acordo com prévia do Censo Agropecuário 2017, as pessoas com idade entre 25 anos e 35 anos são apenas 9,48% da população rural. Na edição anterior do Censo, eles eram 13,56%. O grupo entre 35 e 45 anos de idade também encolheu, passando de 21,93% para 18,29%.

A história dos Wortmann é um exemplo de que, quando se criam oportunidades, o jovem opta por fazer o caminho inverso e passa a ser um agente transformador no agronegócio. É o caso de Victor Wortmann, terceira geração de uma família de pecuaristas gaúchos que atua há quase 50 anos no setor de produção de carne bovina e ovina e de lã. Em 2014, ele decidiu fazer justamente o inverso do que mostram as estatísticas do Censo Agropecuário. Deixou a capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, onde cursou a faculdade de Publicidade e Propaganda e comandava a sua própria empresa de comunicação, para assumir a gestão da Estância Coxilha, no município de Quaraí (RS).

O primeiro passo antes de assumir totalmente os negócios da família foi investir na própria capacitação. Em 2013, seguiu para a Nova Zelândia para participar de um curso sobre pastagem de inverno e, ao estagiar em uma fazenda, pode constatar como os neozelandeses vêm conseguindo com êxito administrar os negócios dentro de um sistema totalmente familiar. “É uma realidade bem diferente da brasileira. Como a mão de obra é muita cara por lá, eles investem bastante em tecnologia, e a própria família tem de cuidar do gado. Na propriedade que estagiei, a tarefa de cuidar dos terneiros fica a cargo da esposa, que tira licença do trabalho em determinado período do ano para poder ajudar o marido nessa tarefa. Essa experiência me fez encarar o trabalho com mais pé no chão, ciente da necessidade de minha atuação em todas as fases do negócio, e da incorporação de novas tecnologias no sistema produtivo da Coxilha para atingir maior eficiência”, conta o pecuarista.

Um desafio encarado por Victor logo que voltou da Nova Zelândia foi provar aos pais e aos funcionários da fazenda a sua capacidade em gerenciar o negócio, apesar da pouca experiência em pecuária. “Profissionalmente, eu era um ‘desconhecido’ para eles. Conquistei a confiança de todos à medida que fui me especializando e melhorando os resultados de desempenho do rebanho com as tecnologias adotadas”, lembra. Um passo importante foi a contratação de uma assessoria pecuária, nas áreas de nutrição e sanidade.

Estância Coxilha, da família Wortmann, localizada no município de Quaraí (RS)

A fazenda tem 4.200 hectares de extensão e está concentrada no Pampa, bioma com cerca de 450 espécies de gramíneas e 150 leguminosas nativas. Uma das vantagens desse tipo de vegetação é que ela ajuda no sequestro de carbono da atmosfera e reduz a emissão de gás metano pelos animais. Mas, apesar de apresentar uma alta produtividade na primavera e no verão, proporcionando a terminação de animais, no outono e no inverno ocorre uma queda na produção de forragens, prejudicando a conversão alimentar do rebanho.

A solução foi desenvolver um programa anual de suplementação de acordo com cada tipo de pastagem. “No início, fizemos alguns testes, oferecendo suplemento para determinados lotes, e vimos uma melhora significativa nos resultados. A partir daí, decidimos suplementar todo o rebanho bovino”, diz Victor, que recebe orientação da dsm-firmenich para definir o planejamento nutricional.

Outra medida adotada foi o ajuste da taxa de lotação que, antes, era muito alta na Coxilha. Durante o vazio forrageiro, quando o pasto de verão começa a envelhecer e o pasto de inverno ainda está sendo implantado, a taxa de lotação foi ajustada para não sobrecarregar as pastagens de campo nativo. O gado ainda recebe suplementação proteica. “A taxa de lotação era alta, pois não havia um descarte regular dos animais improdutivos. Passamos a fazer um monitoramento rigoroso do plantel em fase reprodutiva, descartando as vacas inférteis”, diz Victor.

Nas áreas plantadas de pastagem de inverno e verão, os animais recebem suplementação energética. A meta é ter um ganho diário de 1 kg por cabeça. Com isso, a Coxilha está conseguindo aumentar a taxa de abate, que era baixa antes das mudanças feitas no sistema de manejo.

Novilhas Braford a pasto na Estância Coxilha

A propriedade conta com um rebanho Braford de 3.600 bovinos, manejados totalmente a pasto. Habilitada para produzir carne para exportação, com certificação individual dos bovinos no SISBOV, trabalha em sistema de ciclo completo. Já o plantel de ovinos é de 1.100 cabeças da raça Corriedale, incluindo cria, recria e engorda, além da produção de lã. A propriedade adotou práticas de bem-estar animal, com a finalidade de tranquilizar os animais e evitar contusões. “A modernização do nosso sistema de produção foi fundamental para atendermos aos padrões de qualidade exigidos pela indústria”, destaca. O sistema empregado  objetiva também aliar produtividade com conservação da flora e fauna selvagem.

Atualmente, Victor comanda cerca de 20 funcionários na Estância Coxilha. Como a gestão do negócio está funcionamento bem, agora, a família segue para a segunda parte: o planejamento sucessório e a consultoria tributária, que conta com a ajuda de uma empresa especializada. Dos três filhos, Victor é o único interessado em gerenciar o negócio. Por isso, estão sendo definidos os direitos e deveres de cada herdeiro. “É uma forma de garantirmos a transparência dos negócios e protegermos o patrimônio da família para as futuras gerações que virão”, conclui Victor.

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