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O futuro da pecuária brasileira exige intensificação e sustentabilidade

(*) Por Marcos Baruselli

O Brasil possui o maior rebanho comercial de bovinos do mundo e, depois de muitos esforços para conquistar o mercado internacional, tornou-se o maior exportador de carne bovina. São fatores que colocam o país em uma posição importante para alimentar o mundo com proteína segura e de alta qualidade. Nesse contexto, o Brasil está em posição geográfica estratégica para a produção de bovinos para atender as rígidas exigências dos consumidores, com condições climáticas e vegetação adequadas, com abundância de água e pastagens, que contribuem para a competitividade em termos de custos produtivos.

Esse cenário é conhecido por quem acompanha o agronegócio brasileiro, ainda que minimamente. Contudo, a nossa pecuária ainda tem muito espaço para evoluir, principalmente em produtividade. Temas como gestão, tecnologia, bem-estar animal e sustentabilidade estão na pauta de todos os encontros técnicos e, aqui, é importante muitos pecuaristas entendam a necessidade de aplicar esses conhecimentos em suas fazendas para crescer em rentabilidade e lucro além de gerar mais empregos e divisas para o país e carne cada vez melhor para a mesa dos consumidores.

Embora haja uma pecuária desenvolvida e sustentável no Brasil, a média ainda tem de evoluir. Questões como a suplementação mineral do rebanho, por exemplo, ainda é um desafio para os pecuaristas. A maior parte opta pelo sistema 100% a pasto e, destes, muitos ainda não praticam nenhum tipo de suplementação nutricional, deixando o animal suscetível à perda do ganho de peso nos meses de estiagem, com risco de comprometer os índices reprodutivos, a saúde, o bem-estar animal e a conformação de carcaça. Ou seja, a aplicação de tecnologias economicamente viáveis torna possível produzir mais arroba por hectare e gera mais receita.

Outro desafio é questão ambiental, que vem ganhando contornos de ameaça à nossa pecuária. Apesar das polêmicas e das defesas do setor, o avanço do desmatamento ilegal em algumas regiões gera desconfiança entre clientes globais. Nos países da União Europeia, por exemplo, há um risco real dessa questão ser usada como medida protecionista, com aumento das barreiras comerciais e tarifárias aos países que praticam desmatamento ilegal ou que não tenham certificações de origem para produtos de origem animal. Isso tem levado autoridades brasileiras a se mobilizarem em comitivas para defender a nossa carne.

Outras duas questões que têm se apresentado como demandas (ou exigências) são padrão e procedência. Sobre a primeira, a China, que é o maior comprador da carne bovina brasileira, exige bovinos de determinadas características em termos de idade (animais jovens), peso e conformação de carcaça (esse animal já tem até nome: “Boi Padrão China”). Sobre a segunda, o comprador quer saber a origem, se a carne é produzida em linha com os seus valores, com processos legalizados, livres de mão de obra escrava, desmatamento ilegal, entre outros fatores.

Diante de tudo isso, voltamos ao início do texto. Como a nossa pecuária é favorecida pelas condições naturais, é possível aumentar significativamente a produção sem ampliar o uso da terra. Isso é possível aplicando tecnologias de nutrição economicamente viáveis. Naturalmente, o resultado será a manutenção do mercado atual, a conquista de novos espaços fornecendo a carne que o mundo quer e melhor remuneração para todos os elos da cadeia produtiva à medida que o produto brasileiro for mais valorizado. O caminho está aberto e basta o pecuarista trilhá-lo por meio da intensificação da pecuária e do uso das boas práticas de produção animal. Os ganhos de produtividade são claros e provados e mostram que, sim, a pecuária consegue fazer mais com menos.

 

(*) Marcos Baruselli, zootecnista, é gerente de categoria Confinamento da Ruminantes da dsm-firmenich no Brasil.