28/11/2018 | Autor: Velter Rosa, Assistente Técnico Comercial
A criação de equinos é uma atividade que cresce a cada ano, movimentando o mercado do Agronegócio constantemente devido aos vários segmentos de lazer e esportes em que a criação destes está envolvida.
Segundo IBGE 2014, o Brasil possui um rebanho de aproximadamente 5.451 milhões de equinos, sendo que 3,9 milhões são animais de lida (trabalho). Estes atuam principalmente na pecuária e na criação de outros animais, segundo a Revisão do Estudo do Complexo do Agronegócio do Cavalo de 2016.
Em razão do baixo investimento na criação de equinos, tradicionalmente a suplementação nutricional dos animais de lida fica em segundo plano, acarretando uma nutrição inadequada dos mesmos. E, dentre os vários distúrbios ocasionados por este fator, a Osteodistrofia Fibrosa, também conhecida como “cara inchada”, é a mais corriqueira.
A predominância das forragens do gênero Brachiaria spp no território brasileiro traz consigo uma concentração alta de ácido oxálico, que, na presença de íons de cálcio, forma o oxalato de cálcio. Nessa forma, o cálcio torna-se indisponível para o animal, diminuindo a sua concentração na corrente sanguínea, desequilibrando a relação cálcio:fósforo.
A relação cálcio:fósforo deve ser próxima de 2:1. Com a redução na absorção de cálcio, eleva-se a concentração de fósforo na corrente sanguínea, causando uma hiperfosfatemia. Para o reequilíbrio da relação cálcio:fósforo, o animal aumenta a liberação de paratormônio (PTH) pelas paratireoides, que atuam na retirada de cálcio dos ossos, liberando-os para a corrente sanguínea. E os primeiros ossos que sofrem essa remoção de cálcio são os da face. O tecido ósseo é removido e substituído por um tecido sem cálcio (aerado), que apresenta um volume maior, ocasionando o aumento dos ossos da face, deixando o animal com o aspecto de “cara inchada”.
Além das forragens com altas concentrações de oxalato, existe outro fator que potencializa esse problema: a suplementação nutricional dos animais. Tradicionalmente e erroneamente, as fazendas com cavalos de lida fornecem o suplemento nutricional de bovinos para os equinos. Essa atitude amplifica o efeito da osteodistrofia fibrosa (“cara inchada”), porque os requerimentos nutricionais são completamente distintos entre as espécies, como podemos observas nas tabelas 1 e 2. Como sabemos, os suplementos nutricionais de bovinos são ricos em fósforo. Devido à baixa disponibilidade nas forragens brasileiras, o consumo desses suplementos aumenta o desequilíbrio da relação cálcio: fósforo.
Estudo realizado na USP – Pirassununga abordou o uso de minerais orgânicos na alimentação de potros, avaliando a deposição óssea de cálcio e fósforo através de biopsia e densitometria óssea. Os animais, com idade entre 10 e 13 meses e peso aproximado de 221 kg, foram distribuídos aleatoriamente nos tratamentos de minerais, orgânicos e inorgânicos. Como resultado, foi observado um incremento significativo na deposição óssea dos animais tratados com cálcio orgânico após 90 dias de tratamento, quando comparados com o tratamento de cálcio inorgânico (SOARES, 2007).
Outro trabalho realizado na USP – Pirassununga avaliou a prevenção do hiperparatireoidismo nutricional secundário (“cara inchada”), suplementando equinos com minerais orgânicos. Na dieta, foi adicionado ácido oxálico, com o intuito de provocar um desequilíbrio entre cálcio e fósforo. Os tratamentos foram realizados em dois grupos de animais, sendo um grupo com minerais inorgânicos e outro, com minerais na forma orgânica (Kromium® dsm-firmenich). O resultado do trabalho mostrou que o grupo de animais suplementados com minerais na forma orgânica (Kromium® dsm-firmenich) apresentou valores médios de paratormônio de 54,32 pg/ml (picograma/mililitro) de sangue, enquanto o grupo suplementado com minerais na forma inorgânica teve 232,43 pg/ml de sangue. Esse resultado demonstra que os minerais na forma orgânica apresentam uma maior disponibilidade para os animais, mesmo em situações críticas de ácido oxálico, prevenindo o desenvolvimento da osteodistrofia fibrosa (“cara inchada”) (WAJNSZTEJN, 2010).
Concluímos que o fornecimento de suplementos nutricionais específicos para equinos é importantíssimo, pois tem efeito positivo na prevenção de algumas doenças. Além da suplementação específica, os minerais na forma orgânica apresentam resposta positiva na prevenção da osteodistrofia fibrosa ou “cara inchada”.
Mesmo fornecendo uma suplementação adequada, ainda assim os equinos não estão livres do risco da osteodistrofia fibrosa, pois a maioria dos suplementos possui o cálcio na forma inorgânica, e sabemos que nutrientes na forma inorgânica têm menor biodisponibilidade. Uma opção para a prevenção da doença seria a utilização do cálcio na forma orgânica, em razão da sua maior biodisponibilidade para o organismo do animal, tornando sua absorção mais rápida e, consequentemente, reduzindo as ligações do cálcio com os ácidos oxálicos.
REFERÊNCIAS
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Agropecuário 2014. Disponível em: <https://seriesestatisticas. ibge.gov.br/series.aspx?vcodigo=PPM01>. Acesso em Julho 2018.
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (BR), Secretaria de Mobilidade Social, do Produtor Rural e do Cooperativismo. Revisão do Estudo do Complexo do Agronegócio do Cavalo. Brasília: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, 2016.
SOARES, A. Minerais orgânicos na alimentação de potros. 2007. 72 f. Dissertação de Mestrado – Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia. Departamento de Nutrição Animal, Pirassununga, 2007.
WAJNSZTEJN, H. Minerais orgânicos na prevenção de hiperparatireoidismo nutricional secundário em equino. 2010. 120 f. Dissertação de Mestrado – Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia. Departamento de Nutrição Animal, Pirassununga, 2010.
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