30/06/2017 | Autor: Alessandra Crosara Testa - Médica veterinária, Pós-Graduada em Reprodução Equina
O crescente interesse pelo uso de sêmen congelado pela indústria do cavalo é notório. Hoje, a prática é permitida por cerca de 80% das associações nacionais de criadores equinos, e a recente liberação do uso de sêmen congelado na raça Crioulo no Brasil comprova o fato.
Segundo levantamento da Sociedade Internacional de Transferência de Embriões (IETS), o Brasil é o segundo país em emprego de Transferência de Embriões (TE) em equinos no mundo e um dos cinco principais países no uso rotineiro do sêmen congelado de garanhões.
Certamente, o sêmen congelado é a principal alternativa para a preservação, por tempo indeterminado, do patrimônio genético de garanhões superiores que venham a falecer ou apresentar queda ou perda de fertilidade. Além de ser uma forma de preservar o patrimônio genético, o sêmen congelado também tem sido utilizado para transpor as dificuldades enfrentadas com o uso de sêmen resfriado para transporte. Em alguns casos, o sêmen de garanhões que são sensíveis ao processo de refrigeração não apresentam boa qualidade após o transporte. Entretanto, vários destes animais apresentam características satisfatórias de sêmen pós-descongelamento.
O mais antigo e importante fator limitante ao uso rotineiro de sêmen congelado estava relacionado à própria espécie, já que uma grande parcela de garanhões apresentava características de sêmen pós-descongelamento inadequadas para o uso.
Há cerca de 15 anos, um levantamento realizado pela Unesp Botucatu divulgou o sucesso e o insucesso na congelabilidade de sêmen de aproximadamente 80 garanhões de diferentes raças de Hipismo e Quarto de Milha. A grande maioria destes garanhões apresentou sêmen com bom padrão de motilidade após o descongelamento. Contudo, em algumas raças, como o Mangalarga Paulista e o Mangalarga Marchador, o percentual caiu para cerca de 20%, demonstrando haver um fator racial relacionado à resistência do sêmen ao processo de congelação. As causas desta variabilidade são, até agora, desconhecidas e vêm sendo muito estudadas.
Com o intuito de viabilizar o congelamento de sêmen de reprodutores dessas raças, várias pesquisas foram realizadas. Descobriu-se que o meio à base de glicerol, usado antigamente no congelamento, é extremamente tóxico para o sêmen de alguns garanhões. Sendo assim, pesquisadores brasileiros da Unesp Botucatu desenvolveram um novo meio, substituindo o glicerol por outros agentes crioprotetores. Esta alteração tem permitido o congelamento de sêmen com sucesso em cerca de 80% dos garanhões.
Outra limitação relacionada ao congelamento de sêmen diz respeito ao número de doses possíveis armazenadas por ejaculação. Diferentemente de touros que, em uma única ejaculação, é possível congelar entre 300 e 500 doses, no caso de garanhões, este número se restringe a uma média de 4 a 10 doses (32 a 48 palhetas) por ejaculação. Porém, técnicas alternativas de inseminação têm sido utilizadas, permitindo o uso de uma baixa concentração de espermatozoides por inseminação. Desta forma, o número necessário de palhetas passou a ser de 2 a 4 palhetas por inseminação.
A proibição do uso de sêmen congelado resulta em sérios prejuízos para uma determinada raça, pois, ao contrário do que acontece em bovinos, em que o melhoramento genético ocorre rapidamente, a evolução genética em equinos é lenta. Poucos são os garanhões realmente melhoradores da raça e, sendo assim, a perda de um excelente reprodutor pode nunca ser reparada.
Outro aspecto importante diz respeito ao patrimônio monetário investido, o qual, em se tratando de garanhões, é de altíssimo risco, pela possibilidade sempre iminente de morte ou invalidez dos reprodutores.
Diante de todos esses fatos, fica claro que a proibição do uso de sêmen congelado em uma determinada raça exclui o direito dos criadores de preservar anos de trabalho genético e de minimizar a perda econômica com a morte de seu garanhão.
Portanto, a conscientização das limitações para o uso da técnica é fundamental para evitar insucessos e frustrações. Contudo, desde que as limitações técnicas já estejam em sua maioria superadas, acredito que o uso frequente do sêmen congelado é iminente, devendo sua normatização ser feita de forma criteriosa e com regras bem definidas.
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