Manejo nutricional de bezerros de corte com alta eficiência produtiva e econômica

Manejo nutricional de bezerros de corte com alta eficiência produtiva e econômica

24/01/2019 | Autor: Victor Valério de Carvalho, Supervisor de Inovação e Ciência Aplicada em Bovinos de Corte

A pecuária de corte brasileira tem se consolidado como modelo de produção devido à crescente adoção de tecnologias que tem resultado em aumento de produtividade e da qualidade do produto final de forma sustentável. No entanto, há ainda um enorme potencial para melhorar a eficiência, por meio da redução de ciclo produtivo e do aumento da produção de arrobas por hectare. A fase de cria ainda apresenta os menores índices produtivos e econômicos comparando com as outras fases do ciclo de produção, sendo a produção de kg de bezerro desmamado por fêmea exposta à reprodução um dos índices que mais impactam esse cenário. Para aumentar esse índice, além de ser fundamental obter ótimos resultados reprodutivos, é necessário desmamar bezerros mais pesados.

O aumento do peso de desmame dos bezerros pode melhorar a lucratividade da fase de cria, e ainda, ao melhorar o desenvolvimento dos bezerros durante a fase de amamentação, o tempo de abate e o tempo para atingir a puberdade das novilhas podem ser reduzidos. A pecuária de cria tem evoluído em ritmo acelerado, devido à maior adoção de tecnologias reprodutivas e de nutrição, melhor ajuste da estação de monta, favorecendo a época de nascimento dos bezerros, e ao melhoramento genético dos zebuínos, tendo destaque para a crescente utilização do cruzamento industrial. Como resultado, têm-se produzido bezerros com elevado potencial de resposta em ganho de peso, porém para expressar esse potencial genético o manejo nutricional deve ser compatível.

A maior parte dos nutrientes ingeridos pelos bezerros nos primeiros meses de vida é suprida pelo leite materno. Porém, após três meses de idade, o leite não é suficiente para atender às exigências nutricionais dos bezerros para obter desempenho (GMD) acima de 900 g/dia (BR-Corte, 2016).  Dessa forma, para complementar a dieta os bezerros dependem cada vez mais dos nutrientes advindos do pasto. No entanto, simultaneamente à fase decrescente de produção de leite das matrizes, ocorre também decréscimo na produção e na qualidade do pasto, devido à transição entre as estações águas-seca na maioria dos sistemas de produção no Brasil (Figura 1), enquanto que as exigências nutricionais dos bezerros aumentam na medida que o crescimento avança (BR-Corte, 2016). Consequentemente, são comumente observados baixo desempenho dos bezerros nessa fase.

Sob condições de baixa disponibilidade de forragem presente em pastagens naturais e em pastos degradados, tanto a produção de leite da matriz como o consumo de forragem pelos bezerros são limitados. Estas situações resultam em pesos a desmama situados entre 3,5 e 5 arrobas ou até mesmo em pastagens cultivadas, peso variando de 5 a 6 arrobas. Já em rebanhos constituídos por matrizes que experimentaram seleção para habilidade materna, criados em pastos manejados para quantidade e qualidade podem resultar em peso a desmama de 6 a 7 @ (Paulino et al. 2018).

O fornecimento de suplementos concentrados para bezerros ao pé das matrizes, em uma área restrita aos bezerros (técnica conhecida como creep-feeding), tem sido uma ferramenta em crescente utilização pelos produtores, que possibilita obter bezerros machos desmamados com 8 a 10@ e fêmeas com 8 a 9@ (Paulino et al. 2018). Durante essa fase ocorre principalmente o desenvolvimento dos tecidos ósseo e muscular, com alta eficiência alimentar, o que favorece a obtenção de ótimos retornos sobre o investimento em suplementação.

Entre o 2◦ e 4◦ mês de idade ocorrem mudanças consideráveis no trato digestório dos bezerros, época em que se torna efetivamente um ruminante. O leite materno é uma excelente fonte de energia e proteína, sendo seus nutrientes altamente digeridos pelos bezerros (aproximadamente 95% de digestibilidade, BR-Corte 2016). No entanto, os bezerros de corte, assim como bezerros de leite, apresentam o reflexo da goteira esofágica, em que o leite não cai no rúmen e passa direto para o abomaso, para não ser fermentado no rúmen. Dessa forma, o fornecimento de suplementos nessa fase é fundamental para otimização da produção de proteína microbiana e para o desenvolvimento das papilas ruminais, fato que além de aumentar diretamente o suprimento de energia e proteína para o bezerro, melhora sua capacidade de utilização de nutrientes advindos da forragem e do suplemento. Recomenda-se fornecer suplementos em creep-feeding desde o primeiro mês de idade dos bezerros, para melhor adaptação dos animais, visando atingir o consumo planejado.

Os melhores resultados em suplementação com creep-feeding para bezerros de corte em pastos tropicais são obtidos com a suplementação proteica e proteico-energética (Carvalho et al. 2018). A Tortuga, uma marca dsm-firmenich desenvolveu um suplemento exclusivamente para fornecimento em creep-feeding na quantidade de 120 gramas para cada 100 kg de peso corporal. O Fosbovinho Proteico ADE é formulado com ingredientes concentrados balanceados com teores adequados de proteína bruta (26,6% PB), e ainda possui os exclusivos Minerais Tortuga, e vitaminas  A, D e E, que além de garantir a saúde dos animais, estimulam o crescimento muscular. Em situações onde os preços dos insumos e o preço de bezerros esteja favorável, e o produtor objetiva maximizar o peso a desmama e a eficiência de utilização do suplemento, suplementos proteico-energéticos podem ser formulados e fornecidos nas quantidades de 500 a 750 gramas para cada 100 kg de peso corporal, contendo de 25 a 20% de proteína bruta (Carvalho et al. 2018).

É importante manter os investimentos em genética e nutrição na fase de cria, com objetivo de garantir produtividade e rentabilidade do negócio, e ainda estar preparado para aproveitar as oportunidades de alta nos preços dos bezerros, como tem sido apontado para 2019, onde o aumento no abate de fêmeas em 2017, diminuindo a oferta de bezerro em 2019, o que deve valorizar o preço do bezerro (Scot Consultoria, 2018).

 

Figura ilustrativa da relação entre a produção de leite da vaca de corte, as exigências nutricionais dos bezerros e a disponibilidade de forragem, considerando o nascimento do bezerro em outubro.

 

Referências:

Carvalho V.V., Paulino M.F., Detmann E., Valdares Filho S.C., ... Silva A.G. A meta-analysis of the effects of creep-feeding supplementation on performance and nutritional characteristics by beef calves grazing on tropical pastures (submitted, 2018).

Exigências nutricionais de vacas de corte lactantes e seus bezerros. Em: Exigências Nutricionais de zebuínos puros e cruzados (BR-Corte, 2016); Cap. 11, pág. 283-310,  disponível em http://www.brcorte.com.br.

Paulino, M.F., Detmann, E., Rennó, L.N., ... Carvalho, V.V. (2018). Modelos dietéticos para bezerros de corte lactentes em sistemas otimizados de produção de carne bovina. XI Simpósio de Produção de bovinos de corte/ VII Simpósio Internacional de Produção de Bovinos de Corte (Simcorte), v. 11, p. 173-200.

Scot Consultoria (2018). Carta Boi – vacas, urnas e dólares.

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